Se
faltavam motivos para uma próxima manifestação de rua em São Paulo, a PM acaba
de escrever, neste último dia 13, um involuntário manifesto anarquista com fortes
argumentos para que a maioria da população passe a apoiar o movimento. E, auge
da burrice, transformou a Paulista em um Monte Castelo, uma Bastilha a ser
tomada pelos insurgentes. Para completar, conseguiu que o País ouvisse de novo:
"o povo unido jamais será vencido". Os "baderneiros" e
"vândalos" agradecem.
Impedir que ocupassem uma avenida que já estava interditada pela própria
polícia foi a ideia que algum gênio da segurança formado em Istambul ou na
Faixa de Gaza. Se não tivessem bloqueado a marcha, não teria havido nenhum
confronto. Se bem que, tecnicamente, não houve confronto. O que vimos foi uma
agressão unilateral por parte da PM, precedida pela prisão de supostos líderes
do movimento (preventivas, sem materialidade e, portanto, provavelmente
ilegais, abusivas e arbitrárias).
Entre os detidos, alguns são acusados de portar vinagre em suas mochilas.
"Material estranho". Ridículo, patético, grosseiro. Outros, muitos,
de formação de quadrilha. Crime inafiançável. Tudo isso. Ninguém, minimamente
honesto, concorda que organizar um protesto, mesmo que nele se cometam
excessos, é algo comparável à ação de narcotraficantes, assaltantes de banco ou
sequestradores.
Os rapazes encarcerados pelo governo Alckmin não são terroristas. É
preciso estar atento e forte: são prisioneiros políticos. Digo isso com
serenidade, sem nenhum arroubo verbal. Foram presos por motivos ideológicos,
por pensarem e agirem como se estivessem em um País democrático, onde podem e
devem conviver ideias contraditórias.
Também vimos jornalistas serem tratados como inimigos de Estado. Uma
coisa aprendi: se estiver numa manifestação, jamais diga a PMs que você é
repórter e está trabalhando. Eles não sabem que a imprensa brasileira defende o
ponto de vista deles. Não leem editoriais, é nisso que dá.
Um repórter fotográfico foi espancado por "seis, sete, oito, nove
policiais", como bem narrou Marcelo Rezende, no Cidade Alerta — que, insuspeito, afirmou: "a
insatisfação do povo brasileiro vai tomando as ruas". As porradas
gratuitas e desproporcionais que começaram a ser registradas por câmeras de TV,
celulares e helicópteros causaram indignação em quem, até então, assistia a um
ato pacífico, festivo e repleto de cidadania. "Um show de
democracia", narrou outro crítico de arruaças, José Luiz Datena.
Uma unanimidade esboçava ser construída. A guerra da comunicação estava
começando a desenhar uma novidade, um estranhamento: ao vivo, o despreparo e a
truculência da PM tomavam o lugar das críticas aos excessos que alguns
manifestantes perpetraram dias antes. A baderna agora se organizava em outro
lugar, bem distante das ruas: estava nos palácios, nos gabinetes de segurança,
na voz de poucos locutores que insistiam em ver algo além de uma multidão de
cidadãos exercendo a tão reclamada consciência política.
Cadê os alienados, os jovens que não se preocupam com o futuro do País?
Quem eram aqueles milhares de brasileiros cantando, oferecendo flores aos
soldados e gritando claramente: "sem violência!"? Para quem apostava
no caos, foi desconcertante. E vergonhoso o comportamento de todas as nossas
autoridades.
Nenhum "representante do povo" deu nem ao menos uma tímida
demonstração de estar entendendo o que se passava. Declarações burocráticas,
tímidas, quando não simplesmente equivocadas. Cada um de seu jeito, Geraldo
Alckmin, Fernando Haddad e o ministro da Justiça, Martins Cardozo, se portaram
como burocratas ou porta-vozes de algum regime autoritário de um passado nada
distante.
O prefeito se apequenou, antes mesmo de ser gente grande. O governador
só sabe repetir chavões de quem se recusa a admitir que administra o estado
mais violento da República. Cardozo se esconde da mídia porque sabe que tudo
que disser vai depor contra sua biografia. Covardes.
Essa somatória de arrogância e despreparo criou uma situação inesperada.
Como os manifestantes se comportaram civilizadamente, as autoridades ficaram
sozinhas, cercadas pela multidão que assistia aos abusos e à incapacidade de
nossos “líderes” dialogarem com o que efetivamente estava acontecendo.
Podem se preparar. A luta continua, dirá qualquer criança com capacidade
de se indignar. O movimento, por absoluta cegueira e incompetência dos
governantes, não é mais por passe livre. Agora é por um País livre. Por uma
nação que tenha o direito de ocupar as ruas reivindicando um futuro melhor. E
que se orgulhe de ter uma juventude corajosa e ordeira.
Duvida? Recomendo não esperar sentado.
Por: Marco Antonio Araújo
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