Com o Judiciário alvo de
críticas, suspeitas de deslizes na conduta de magistrados, acusações de
corporativismo e dúvidas sobre os poderes do Conselho Nacional de Justiça (CNJ)
para investigar seus pares, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF),
Cezar Peluso, quebrou o silêncio e repudiou as críticas e afirmações de que o
Poder está em crise. Só uma nação suicida ingressaria voluntariamente em um
processo de degradação do Poder Judiciário, alertou no discurso de abertura dos
trabalhos do STF e horas antes de a Corte Suprema iniciar o julgamento sobre os
limites de atuação do CNJ.
Numa fala de 38 minutos, Peluso
admitiu que a magistratura não é invulnerável à corrupção, mas afirmou que o
Judiciário é o Poder que mais se fiscaliza. Ele repeliu pressões sobre os
ministros e enfatizou que os juízes continuarão a cumprir sua função com
independência.
Temos ouvido, com surpresa, que o
Poder Judiciário está em crise. Os mais alarmistas não excepcionam sequer os
outros dois Poderes da República. Confesso que, alheio ao hábito da só visão
catastrófica dos homens e das coisas, não é assim que percebo o País, nem o Poder
Judiciário, afirmou.
Segundo o ministro, não está em
discussão se magistrados suspeitos de corrupção devem ou não ser punidos. No
debate apaixonado em que se converteu questão jurídica submetida ao juízo desta
Corte, acerca do alcance e limites das competências constitucionais do CNJ,
perde-se de vista que seu âmago não está em discutir a necessidade de punição
de abusos, mas apenas em saber que órgão ou órgãos deve puni-los. Entre uma e
outra coisas vai uma distância considerável, afirmou.
Pressões. Peluso classificou como
impróprias e tendentes a constranger juízes e ministros as pressões exercidas
contra magistrados. Criticou, sem identificar alvos, pressões externas sobre
magistrados como forma de levar os ministros a votar contrariamente às suas convicções.
Pressões, todavia, são manifestação de autoritarismo e desrespeito à
convivência democrática.
As declarações não fizeram
referência direta, mas lembraram as acusações contra ministros do STF que
concederam liminares para limitar os poderes do CNJ. No final do ano passado,
Marco Aurélio Mello concedeu liminar para dizer que o CNJ só poderia processar
magistrados depois que as corregedorias dos tribunais locais processassem esses
juízes. No mesmo dia, o ministro Ricardo Lewandowski suspendeu as inspeções que
seriam feitas pela Corregedoria Nacional de Justiça em 22 tribunais, analisando
declarações de bens e rendas dos magistrados e servidores e valendo-se de dados
do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e das folhas de
pagamento dos TJs.
Os dois ministros foram alvos de
críticas. Lewandowski foi acusado de dar a liminar por ter recebido verbas
atrasadas do Tribunal de Justiça de São Paulo, o primeiro a ser inspecionado.
As liminares suscitaram debates e
críticas sobre a caixa-preta do Judiciário. Peluso insistiu que levar o
Judiciário para uma crise de legitimidade seria suicídio. Esse caminho nefasto,
sequer imaginável na realidade brasileira, conduziria a uma situação
inconcebível de quebra da autoridade ética e jurídica das decisões judiciais
que, aniquilando a segurança jurídica, incentivando violência contra os juízes
e exacerbando a conflitualidade social em grau insuportável, significaria retorno
à massa informe da barbárie.
O Judiciário é - na visão de
Peluso -, entre os três Poderes, aquele com estrutura mais rigorosa para punir
seus integrantes. Nem a Controladoria-Geral da União (CGU), que faz o controle
administrativo do Executivo, nem as corregedorias da Câmara e do Senado teriam
tantos poderes correcionais quanto o órgão de controle do Judiciário, segundo o
ministro. Nenhum dos Poderes se reveste do portentoso aparato de controle que
(...) cerca o Judiciário mediante as corregedorias locais e dos tribunais
superiores e do Conselho Nacional de Justiça (...), o único órgão integrado por
agentes externos a exercer contínua e rigorosa fiscalização do próprio Poder,
disse.
Peluso reconheceu que o
Judiciário não está isento de vícios e que o juiz não é invulnerável à
corrupção, mas disse que esses problemas atingem a sociedade como um todo.
Esta, a corrupção, não é objeto de geração espontânea, nem o resultado de
forças estranhas à dinâmica social, senão que é produto mesmo das sociedades
cuja cultura está em privilegiar, como objetivo primordial da vida, a conquista
e o acúmulo, por qualquer método.
Fonte: Jornal o Estado de São
Paulo.
Não podemos generalizar, mas que tem corrupção no judiciário isso tem.
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